domingo, 22 de janeiro de 2012

é

O Homem entra na sala com aquele mesmo olhar de sempre, sempre de cima, sempre superior, sempre alto.
-Qual o problema com você? -Disse o homem, com um tom rude.
-Você. -Disse o garoto, com certo receio, mas muito ódio.
-Ohh, deve ser muito mais fácil pra você ficar sentando aí, bêbado, bancando o rei do monte de bosta.
O garoto se irrita mais, o ódio cresce, o ódio expande, o ódio sai.
-Monte de bosta é EXATAMENTE o que esse lugar é, você definiu muito bem essa casa nojenta que eu vivo e sabe qual é a parte mais nojenta disso tudo? Você vem aqui todas as manhãs, e me dá o mesmo olhar de nojo.
-Que olhar é esse? -O homem responde.
-Você olha pra mim como se eu fosse o perdedor. O bastardo, o filho que você tem desgosto em ter. Nunca ouvi a palavra "orgulho" sair de sua boca, quando se diz respeito à mim.
O homem se faz indiferente, coloca seu café. Fala "Hum..." e fica quieto.
O garoto não pode aguentar a indiferença dessa vez, não mais uma vez, de jeito nenhum.
-Depois você senta com o seu café e finge que nada aconteceu, finge que a gente não discute, finge que isso aqui não é um inferno. O perdedor é você.
O homem olha pra ele, com indiferença e talvez um pouco de... raiva.
-Quem paga as contas? Quem compra a sua roupa? Quem coloca comida no prato? Quem paga coisas pra você? Quem te da dinheiro? Se você me acha um perdedor, você é um filho de um perdedor, o que te faz muito mais perdedor que eu.
O menino se cala. Se cala para sempre.

O que esse homem não entendia, era que ser pai vai muito além disso. Esse homem, muito provavelmente, não sabe amar.




Y.

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